ARCANO MAIOR, 11BIENAL

Lua cheia jogadores! Emergem coordenadas no mapa portoalegrense! Mais uma vez um arcano maior nos leva para as águas. Numa ponte invisível com o arcano 143navegantes, novamente retornamos ao lugar de onde viemos, retornamos ao mar.  No gigante mar sem forma, puro movimento líquido em diversas correntes, emerge um triângulo cujos vértices unem três continentes. http://www.fundacaobienal.art.br/11bienal/

África, America e Europa, o mar, as linhas, as feridas abertas. Um mapa, cinco coordenadas de lua cheia, infinitas possibilidades entre elas.

Arcano das artes, arcano do museu. Vamos fluir pelas galerias com euforia:

Mas o museu é o mundo! vem gritar na sua janela o cigano Helio Oiticica! Você já leva um susto, e então a cigana traz uma proposição dupla (!) que na verdade é única (ohhh). Dois movimentos em um tempo, ou dois tempos em um movimento. [Tá abstrato cigana! – Vamos tentar de novo.]

Um triângulo, o mar e três continentes. Um mapa, 5 coordenadas e infinitas possibilidades entre elas.

A proposta é simples: primeiro, um mergulho profundo no mar da Bienal. Preparem seus cilindros de oxigênio, calibrem as lanternas, o tempo de mergulho depende inteiramente do seu corpo estar disposto a submergir.

 

A entrada desse mar se dá por qualquer uma das coordenadas indicadas. Distenda o tempo ao máximo e se deixe tocar.

 

No mesmo tempo, ou em outro, no mesmo movimento, ou em outro (ou melhor ainda, ao mesmo tempo e no mesmo movimento!), um outro mergulho daremos, no mundo, na cidade, pra fora do mar de dentro, pra cidade que não tem mar. Não tem? Ah então nós vamos arrastar o mar que entrou pelas artes nos museus até as ruas da cidade.

[Ai, tá abstrato ainda cigana! – vamos de novo:]

Vem Oiticica, senta aqui e fala. O museu é o mundo! Como onde? na arte das ruas, das coisas inacabadas, daquilo que é espontâneo, anônimo, que nos olha, que nos convida a uma incorporação sensorial, suprasensorial, sensível. Abençoado pelo pé de Hélio, o arcano maior 11bienal faz transbordar os limites expositivos indicados no mapa. Elementos mágicos podem ser coletados/produzidos dentro e fora das dependências dos museus, no percurso entre eles e a sua casa, seu trabalho, ou qualquer lugar.

Esse arcano maior é um espaço aberto e cósmico, onde o jogador entra e sai da posição de espectador ingênuo e encontra dentro de si mesmo a chave para mais um exercício experimental de liberdade[1].  (Oiticica é foda ou não é? Muito foda! mas tá abstrato ainda mulher! – ah então pera)

Vou invocar o outro cigano que entra pela janela, Paulo Nazareth, o cigano dos pés rachados. O Paulo fazia uma coisa interessante, que eu quero contar pra vocês.[2]

Em uma de suas séries mais antigas (2005-07), Paulo produziu uma série de panfletos que continham a inscrição AQUI É ARTE. Abaixo dessa inscrição, ele apresentava uma ou mais imagens fotográficas documentando determinadas situações encontradas no espaço público, que Paulo elegeu como obra de arte por meio do que ele denominou “decretos conceituais”, devidamente datados, as vezes indicando, inclusive, a validade do decreto e o período em que ocorre a situação em questão. Os pequenos textos descritivos que acompanham essas publicações são escritos de modo a emular uma linguagem rigorosamente objetiva e científica, embora seu teor seja puramente subjetivo e poético.

“Na Avenida Otacilio Negrão de Lima, número 17.397, Pampulha, Belo Horizonte, há um muro com um buraco por onde você pode ver o mato crescer durante o período de chuva” Mês: janeiro    Validade: Indeterminada

“Entre as 4h00 e 7h00 da manhã, vá à barragem da Pampulha entre as Avenidas Presidente Antonio Carlos e D. Pedro I, Belo Horizonte, MG / Brasil. Coloque-se exatamente em cima do escoadouro que dá para o Córrego da onça, um pássaro irá passar por baixo dos seus pés” Mês: janeiro    Validade: indeterminada

Outras vezes o texto tende a ser mais especulativo, insinuando reflexões que apontam para outros desdobramentos do trabalho e deixando entrever a graciosidade de sua escrita, como na situação em que identifica um elefante através de um buraco no muro:

Então jogadores queridos, depois de uma imersão arcânica bienalesca, saindo da exposição, a arte não acabou não! Esse arcano maior convida a buscar na cidade objetos, acontecimentos, paisagens, situações que os próprios jogadores vão atestar como obras de arte, bem assim, na maior liberdade, sem o menor compromisso, na vibe Paulo Nazareth: aqui é arte! Porque? Ah porque nessa rua tem um muro que tem um buraco do qual se pode observar a relva crescer quando chove. Aqui é arte! Pode ser uma foto e um texto (8 estrelas) , pode ser um vídeo e um texto (10 estrelas), que revele um aqui que seja arte, que tenha uma duração, gente! Sejam os curadores da exposição mais louca do mundo que é a vida nas cidades! Sejam vocês a obra! Sejamos nós um aqui que é arte!

A aposta é que um mergulho carrega o outro. Que o fluxo das águas que carregue nosso olhar! Que impregne nosso corpo e nos coloque em relação líquida com este outro corpo, o corpo da cidade. Que mistérios aparecem nessa dupla imersão? Arcano Maior, mistério maior. Quem poderá revelar? Aqui é arte? O mar vaza pra cidade?

É tempo de abundância: as estrelas e a treva entre as estrelas, são para nós!

A validade desse arcano é o tempo da própria Bienal, vai até 3 de julho (um pouco antes do fim do nosso querido jogo :O [uma hora tem que acabar, todo jogo acaba]).

Oiticiquear, nazarethiar! Plim! Plá!

Não esqueça de ativar o Strava! O mapa vale 5 estrelas! E já adianto que há muitos arcanos menores escondidos em cada uma das coordenadas desse arcano maior. Cada vez mais o jogo atinge a vertigem da refração das cartas! Há diversos arcanos dentro desse arcano para serem encontrados nessa experiência. Há portas, escadas, estrelas, flores brotando, alsfaltos, a cigana tá impregnando o mundo e a mágica está cada vez mais presente. Quanto mais se joga mais magia aparece! Plim! Estrelas brilham para nós/em nós!

Mar! Felicidade! Sensação e Fortuna!

Optchá!

 

 

[1] roubo, torção, de OITICICA, Hélio. Hélio Oiticica: museu é o mundo. texto Cesar Oiticica Filho et al. São Paulo : Itaú Cultural, 2010. 200 p., il.

[2] roubo, torção de NAZARETH, Paulo et alii. Paulo Nazareth: Arte Contemporânea/ Ltda. Rio de Janeiro: Cobogó, 2012.